segunda-feira, fevereiro 22, 2010

2º dia de devastação na Madeira

A noite foi mal dormida mas acordei e pus-me a pensar: será que foi um pesadelo ou aconteceu mesmo?
Continua a não haver água nem luz, são cerca das 9 da manhã e fomos à busca de um supermercado para comprar água potável. Já não há garrafões de águas, compram-se garrafas de qualquer marca e os preços não interessam. Quase que lutam para conseguirem ter água potável em suas casas. A maioria da população do Funchal não tem água potável e não sabe quando chegará a suas casas. As filas nas caixas registradoras estão impossíveis, mas espera-se até que chegue a nossa vez. As funcionárias do dito supermercado não tinham mãos a medir para repor stocks e ajudarem as pessoas, o que muitos se esqueceram é que essas mesmas funcionárias também têm família.
O caos instalou-se em cerca de 30m, empurra daqui e dali, lá feitas as compras rumo a casa. Pelo caminho viu-se destruição, estradas barradas, outras inexistentes, casas destruídas, acessos negados e ausência da alegria de um domingo de manhã.
As comunicações de telemóvel ainda falham, mas mesmo assim já conseguimos saber dos entes queridos e receber mensagens aflitas de amigos que estão longe mas que nunca se esquecem de nós.
A cada metro percorrido uma tragédia para contar, parece o fim do mundo. Cortaram o acesso principal a minha casa, a estrada está a ceder e encontraram mais carros soterrados debaixo dos escombros. Morreram pessoas e os carros parecem autênticos acordeões. É indescritível o que se sente ao ver tamanha destruição.
Chegados a casa, água e luz cortadas. Voltamos para casa de uns familiares, passámos a tarde em frente à televisão a ver o rasto de destruição que a água das ribeiras deixou. Ribeira Brava, uma das localidades que sofreu com as intempéries, O Curral das Freiras isolado há mais de 24h. 36 famílias estão desalojadas e parte da Ribeira do Trapiche, Sto. António, deixou de existir. Este é um dos balanços que se ouve e se vê nos canais de tv.
A tarde passa num ápice e não sabemos o que fazer, não podemos sair de casa nem para ajudar, não temos acesso ao Funchal. Não há ânimo para filmes e continuamos a querer informar todos os amigos que estamos bem. Na Via Rápida que passa mesmo em frente à minha casa passam várias ambulâncias, carros da polícia e bombeiros, ainda ficamos mais nervosos.
O dia acaba com o balanço de 42 mortes, 248 desalojados e 120 feridos, alguns dos quais feridos graves. Termina assim um fim-de-semana trágico, entra-se numa semana de destruição e avizinham-se tempos difíceis para todos. As escolas fecharam, o alerta é para amanhã não sairmos de casa. As autoridades advertem para cuidados extremos e até já se falam em assaltos a lojas que foram parcialmente destruídas na baixa funchalense. Há gente para tudo, mesmo em momentos de tristeza aproveitam-se do horror e da destruição.
A noite caiu, o vento começou e não parece querer ir embora, está a cerca de 100/120 km/h. É assustador a força das rajadas de vento e da força da natureza. Continuamos todos em alerta vermelho, nem que seja por precaução.
Não é tão cedo que veremos cair a noite e ver nascer o dia com alegria.

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